Lá vem a boca da noite
sem dentes nem dentaduras
vem fechada sem canudos
no bradar da noite escura.

Em silencio vem na calma
abocanhando o seu medo
esgueirando pelas escadas
a d'onde mora o segredo.

Lá vem a boca da noite
com seu riso cruel e preto
cada sombra um açoite
de um mundo insatisfeito.

Vem gélida cortando ventos
pelos viadutos surdos da vida
cada ser um pensamento
d'aquela infância querida.

A boca da noite esta ai...
Logo apos o por do sol
bocejando seu pasquim
por todo o seu derredor.

Vem calada muda e surda
em um mundo todo seu
dando pontapé na bunda
para os filhos dos ateus.

Lá vem a boca da noite
banguela e na tagarela
suspiro arfando no totem
espreitando bafo da fera.

Vem no tapa, vem no murro
no morro escorregadio
rugindo os seus esturros
logo apos o seu estio.

Boca da noite, foice, foi-se
foi-se o dia e as fantasia
o duro golpe e seu coice
a canseira e à agonia.

Foi-se a hora da lagrima
com oração da Ave-Maria
o choro que o dia afaga
e os rumores de um dia.

Barulhos ensurdecedor
foi-se com clarão do sol
o tchau d'aquele amor
que chorou sobre o lençol.

A boca da noite, sem grito
bem depois do entardecer
trazendo aqueles pro cristos
para engabelar você.

Ela vem com senas da vida
demarcando o seu viver
tecendo almas feridas
com malha, do seu tecer.

A boca da noite, calada
espera além do crepúsculo
cada esquina, rabanadas
cada praça um adjunto.

Antonio Montes

Antonio Montes
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