NO DORSO AZUL DO CÉU

Digam o que quiserem os manuais,

que devemos acordar cedo e ir para o trabalho,

malhar o aço frio, cortar o tempo em mil retalhos,

nos esforçar para manter a rede ocupacional ocupada,

que não devemos olhar para o lado,

devemos nos fixar no nada

que nos oferecem como recompensa os reis,

se não me engano, hoje, oito, sete ou seis,

digam que escolheremos nas prateleiras

os penduricalhos de nossa humilhação,

coisas que não tem serventia para ninguém,

deixe que digam que somos o futuro de uma nação,

que comporemos a sinfonia da estação lunar,

que para sempre nos darão ocupação,

mergulhados seremos no escafandro estelar,

deixe que falem como fazem os alto-falantes,

que saibam apenas que, por um instante,

que caminhando pela estrada da poesia

achamos um atalho para os campos da felicidade,

um rasgo no peito do sonho, uma outra verdade,

que saibam, lendo, que morreremos sabendo

que o destino se faz com grafite, tinta, invisível papel,

que escreveremos aos nossos, se nos roubarem,

a cada dia, nossas florestas, nosso sustento,

escreveremos no dorso azul do céu...

 

 

 

Prieto Moreno
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