Talvez...
 Se eu fosse um tantinho maior...
E um pouquinho mais largo também...
Mais taludo.
Quem sabe talvez...
Bem, eu não sei.
Mas é certo que já me seria de grande serventia
Não ser assim tão transparente
Translúcido
Tal qual um lagostim, que habita as entranhas de cavernas subaquáticas
Escuso até mesmo aos olhos dos que espreitam sob a luz
(E principalmente, sob a luz).
Invisível e esquisito: tendo como si o seu próprio paradoxo existencial.
 Bem como eu, o lagostim.
Poderíamos ambos ser apenas caras esquisitos

Poderíamos ambos não ser mais que apenas invisíveis
( e isso seria para nós um ponto positivo. Seria-nos “ser” um super-poder)
Mas meu lamento não está no Ser, no Querer ou no Ver.
O que eu queria mesmo era Poder...
Entende?
 Poder ser
simplesmente o eu que digo...
Pois, de fato, procuro dizer apenas o que sou (ou ao menos balbucio).
E isso e raro.
!!!Deus, como isso e raro!!!
E difícil...
Tenho brincado de peixe para esconder asas
(Talvez brincado de crustáceo) 
Tenho me pintado de palhaço
 Para gravar em meu sorriso sincero outro que seja mais convincente que o meu
Um sorriso de tinta, embuste de artista
 Mas bem mais agradável à vista nos dias de hoje
Num tempo em que não se ri mais sem piadas
 Tenho me pintado!
Para que muitos continuem acreditando saber o que se dá com o palhaço
 Depois que as luzes se apagam. Depois que a maquiagem se vai
Dissolvida ante a verdade do espelho.
Tenho me pintado!
 Para que se sintam aliviados ao acreditar que todo palhaço chora
Que todo palhaço é triste
Que ninguém pode ser essencialmente feliz na eternidade de cada dia
Para que tenham um motivo para rirem de verdades!
Sem saber...
E com isso querer provar que os tristes tudo podem pela arte.
Bem, eu sou de fato “O feliz”.
Tenho enganado com a verdade.
Tenho pintado muitos espectadores de palhaço
Porque toda arte... tem seu preço
E porque amo cada um de minha plateia como um artista ama o esplendor e aconchego de seu circo
Isso sim é esquisito
Visto que sou um alguém invisível
Hoje pintado de palhaço
Mas sempre, sempre sorridente.
Amigos:
São vocês os meus dentes!
Eu os utilizo e amo de forma diferente, mas com igual intensidade
Com igual afinco e bom grado
Uns me causam dores lancinantes, outros me ajudam com o alimento
Uns são finos e incisivos, outros robustos e esmagadores
Há os que jazem danificados e por isso requerem cuidados especiais
(E  nesse caso  é natural cuidar primeiro dos que trazem maior incomodo)
Houve os que não se foram capaz de curar e já não compartilham um lugar em mim
Tiveram de ser removidos por um bem maior
Há também aqueles que prescindiam o “eternos”
Os  amigos de juventude, amigos de leite
Que por definição do destino tiveram que partir ainda cedo
Para não mais voltar a ser como antes
Mas muitos ainda restam

E se vos falo demais
É porque, como dizia o sábio: “A língua protege os dentes.”
Quem me dera que me conhecessem
Nem que fosse só um pouquinho
Ou tanto quanto conheço vocês.
 
Tiago Jeison Chaves
 Crítica e Dedicatória aos amigos de eterna data
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Tiago Jeison
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