A INVESTIGAÇÃO
E por onde anda o pai dessa casa
Que destino será que lhe deu?
Em muitos anos de fuga escondido, vencido pelos tormentos surrados
Em consciência nos sonhos acordado, resolvi então escrever
Pra contar uma historia de gloria, que um dia deixei de viver
O cupinzeiro velho amigo
Transformado em forno de lenha
Ensinou-me um triste caminho
Um destino jamais esquecido
Em meus sonhos meio acordado
Comeu toda mobília da casa
Só restando pra minha desgraça
Cartucheira de sal carregada
Começou pela minha gatinha
Influencia do mal infiltrada
Furtando seus sonhos tão lindos
Transformando sua vida em ladra
Ele sempre foi um ladrão
Assassino homicida e cão
Quando entra no coração
Causa grande destruição
Rouba tudo que vê no caminho,
Impondo sentimentos de desdém tão frios
Uma vida sem mais amores, só maldade e muitos rancores
Restando apenas fria prisão, de uma mente em escuridão
O inimigo sagaz e voraz
Não satisfeito com tal destruição
Cascavela por cima do salto
Na menina mudança de habito
Ela perde todo desejo
De boneca e também de brinquedo
Assediada por seu meio irmão
Cresce Lola de muitos desejos
Destruindo no seio familiar
Separações de muitos casais
Instrumento de grande promiscuidade
É inimiga de toda verdade
O menino é herdeiro de tudo
Salpicando o sertão de amarelo
Emplumado desfila de carro
Cafetão é um bofe engomado
As rameiras estão sempre com ele
Faz lembrar sua mãe tão guerreira
No inicio ganhando a vida
Explorando todas as raparigas
Essa parte é a mais dolorosa
Zé ruela era o filho da prosa
Ele era mesmo bastardo
Porem um filho muito amado
Sua mente sempre foi viciada
Na bebida e na Irmã desejada
Sempre abria a porteira dos segredos
Nos gargalos perdido em desejos
Ele disse um dia exaltado:
-Eu te vi de sorriso engraçado
-Com a tia Zezé do mercado
-Em caricias deixando-me hesitado
-Foi então que me apaixonei
-Pela minha irmã que amei
-Ao seguir teu exemplo maldoso
-Das cachaças do fundo do poço
Investigada foi minha vida
Em lençóis maculados de dor
Nesta nodoa perdi pro compadre
A Joana meu grande amor
Ela era meu caju do sertão
Sua pele macia e dourada
Aveludada igual rosa perfumada
Desmanchou-se em pétalas de solidão
Sobrancelhas curvadas ela tinha
Revelando sua linda expressão
Em alegres tons de aventura
Sintonia do amor e paixão
As maças do seu rosto diziam
Em contraste com seus lábios molhados
Quando vermelhos de vergonha ficavam
Desejando deveras ser beijados
Seus olhos de jabuticaba
Negros como as noites sem lua
Conjugava com seus sedosos cabelos
Pelas lágrimas perdidas entre os dedos
No seu sangue aflorado em vermelho
Tudo isso o inimigo roubou
Feito um cupinzeiro destruidor
Quando ele entra bem de mancinho
Dentro de casa tem sempre um ninho
Corrompendo a virtude e valores, feito traça e também roedores
Fermentando o veneno escorrido, nas raízes ao ramo perdido
Enroscando sua presa em necrose, de serpentes hipnose na mente
É preciso fechar essa porta e a tranca de toda entrada
Sempre atento as frestas abertas, para nunca deixar descoberta
A entrada do bicho danado, que enferruja a mente do desocupado
Da razão tira todo saber, transformando todo seu viver
Insensível traição é normal
Sem pudor tudo é tão casual
Permissivo e promiscuo é o sentir
Triste vida desse mundo aqui
Pelos crimes liberto estou
Pelos anos que já se passou
Minha mente presa está
Ao perdão sem poder conquistar
Despeço-me entre tão poucas linhas
E endereço a quem possa desejar
Sobre o som da sanfona do Zé
Companheiro que veio me buscar
O DESPERTAR
Mal o galo havia cantado, gritou sua irmã a Zezé;
-Joaninha acorda mulher... O Audencio está feito um leão
-destruindo o forno com o enxadão
Quando ela chegou de repente, o alambique de água ardente
Encontrava-se todo quebrado com o Audencio pegando o rato
Lambuzado amassando o barro
-Que é isso? Gritou a Joana
-Vou tampar toda fenda da casa
-Espingarda já está carregada
-Pra matar essa cobra danada
Duas bonecas feitas de palha
Alegravam Maria e Marta
Quando Audencio calafetava
As crianças de corda pulavam
Joaninha não mais agüentou
Assustada seu filho ganhou
Gestação era de grande risco
Prematuro Zé Dirceu chorou
A festança estava preparada
Com modinha de dança arrumada
A sanfona chorava afiada
E o labrador de nome; preto, uivava
Com um sorriso estampado no rosto
Despertado e muito aliviado
Audencio percebe que o sonho
Era mesmo sinal enviado
Ele nunca gostou de sermão
Oração coisa de desocupado
Criticava os fieis aos domingos
Que corriam do preto zangado
A Joana não acreditava
Vendo o homem em retórica elevada
Discursando a respeito da vida
E como da cachaça transformado fora em graça
Era sempre o primeiro a louvar
Melodia a Deus entoar
Da família cuidava com amor
Sendo sempre um pai exemplar
Nunca mais ele olhou pra Zezé
Sempre sóbrio estava de pé
A espingarda ele abandonou
Uma cruz de carvalho comprou
Quando a cobra vinha sorrateira
Com veneno de morte cruel
Ao senhor do carvalho clamava
Com o olhar sempre fito ao céu:
-Ó Senhor que habita nas alturas
-Que a serpente na cruz já venceu
-Proteja minha família amada
-Do veneno maldito e cruel
Assim a cobra fugia
Querendo um ninho sempre encontrar
Nas vergas em cima das portas
Nas frestas da casa entrar.
FIM
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