Espero

            Espero...
Já faz bastante tempo. Não sei se foi um único olhar, sob a luz do sol que atravessou a vidraça e iluminou o teu rosto que mais pareceu de um anjo, um semblante sério sem sorriso, mas com esperanças, desejos inatos e ao mesmo tempo puros na mais digna peregrinação pelo ser, mas sem atinos apenas esperar... Sentia o meu coração disparar continuamente todas as vezes que eu te via. Como contentar tanto desejo aflorando a pele de te beijar, colar teu corpo pequeno ao meu, sentir teus lábio em um beijo que selasse uma vida a dois, de deslizar os meus dedos pelos teus cabelos doirados, te acariciar e te fazer feliz... Eu não podia, pois nesse tempo eu tinha impedimento, mas você, completamente livre, a esperar que acontecesse. Não fluíram, os anos se passaram e já não somos mais os mesmos, as nuvens e aguas passaram e, noites infindáveis de solidão tivemos. Viajamos por outros caminhos e, até experimentamos alguma felicidade, pensamos nunca mais nos encontrar. Entretanto, o destino sempre a nos pregar peças, entre elas a de nos encontrar novamente. O mesmo olhar, a mesma admiração, mas agora você é quem tem impedimento. Tocamos palavras no recôndito de dois computadores, falamos de tantas coisas, mas não de nós, e será que temos algo a nos falar? Eu não sei, mas tenho pensado em você, tenho sonhado contigo, e mesmo nos sonhos me sinto tímido e temeroso em dizer que te amo, até mesmo porque não  posso imaginar a dimensão que isso possa causar. Eu tenho medo de te dizer, mas não me posso negar que balancei que sonhei e até nos vi juntos e felizes, difícil de acontecer, são desejos que esbarram nos muros da impossibilidade utópica da vida, mas que caminham conosco para a eternidade... Amores não começados, não vividos e não terminados. É que o amor é como o sol nasce todos os dias, se despede ao anoitecer, mas insiste em nascer novamente, e assim nos amamos sempre, embora talvez nunca venhamos sequer a tocar as mãos, ou caminhar de pés descalços sobre as areias finas de uma praia que nunca vimos...
     Mas, como tudo na vida há uma razão, um aprofundamento tão grande como os abismos que se abrem às portas do destino, talvez possamos ainda nesta vida ter uma chance de nos conhecer melhor, de namorar e, até de viver um grande e inesquecível amor como àquele que acalentamos e sonhamos há décadas de vidas, para que não venhamos a nos envenenar como uma arvore que morre absorvida pela própria seiva, mas que renasce sempre que chega a primavera e cai sobre ela o orvalho da vida e da eterna juventude, no tempo em que nos distanciamos, mas renascemos na esperança daquilo que somente nos podemos viver, espero...