Escalas de cinza.

 Estou eu aqui, mais uma vez, como de praxe, envolvido nas correntes do desgosto. É o velho "Preto e Branco" da vida, velho amigo indesejável de todas as caminhadas. Sorrateiramente se instalando ao meu lado, intenções nada boas a serem compartilhadas... Estou em frente ao portão daquela casa, o portão esverdeado, envolto em ferrugem e correntes que armazenam sutilmente um significado obscuro por trás de toda sua simplicidade. Movimentos simples, diretos e certeiros são necessários para superar o obstáculo imposto pelo cadeado, O cadeado impediria a entrada, uma vantagem afinal... já que sua superação significa a morte... A morte de qualquer alegria trazida comigo.... Percebo que meu velho conhecido não quis me abandonar. 

Desde os tempos mais remotos dos meus 20 anos de existência, o tive dia após dia ao meu lado, meu velho companheiro... Meus olhos sempre enxergaram em escala de cinza... Graças a ele... Ele é um companheiro possessivo, não me quer olhando pra outras cores... Quando eu o fazia, ele me puxava... Me puxava com tanto ódio, tanta ferocidade... Ele foi meu mentor, e eu o obedeci. Obedeci, mesmo que de modo irracional, subconsciente... Fui eu, o seu servo, o seu fiel. 

Este parceiro de caminhada era indesejável, mas sempre me guiou. Ele não possui rosto, não possui forma, nem meios para qualquer tipo de tato. Alguns o chamam de melancolia. Alguns de tristeza. Alguns de depressão. Ele tem vários nomes...Mas é uma coisa só. O velho "Preto e Branco" me põe de braços cruzados. Não gosto de apresentar esse amigo pras pessoas, não é cordial... Mas ele está atrelado à mim, a solução é me afastar... Me afastar pra que ele não queira prejudicar mais ninguém. 

Notei que se instalou também em meus olhos...