23h50min de sexta-feira. Ele se sentou na cadeira e lançou seus olhos cansados para a tela do seu computador. O calidoscópio em movimento exibido pelo player que reproduzia a música “Like a Stone” hipnotizou sua mente por alguns instantes. Instantes preciosos de um barato descontraído nos resquícios das 24 horas de pura tensão, concentração, tédio e, precisamente, ódio.
Talvez o ápice de seu dia se resumisse naquele momento solitário de uma paz sombria. De um prazer não gozado. Como se as negações repudiadas ao próximo durante a máscara do dia levassem sua mente a um estado de infinita liberdade durante uma masturbação realizada em louvor a um vídeo pornográfico protagonizado por jovens universitários em uma orgia com várias garotas de peitos e rabos de fora. Que saco... Depois do ritual limpou a ejaculação lançada em sua barriga com um pano que guardava discretamente na gaveta de sua mesa. Era reservado para aquelas constantes e necessárias ocasiões.
Por volta das três da manhã seus olhos estavam cegos e pesados. Resultado das noites mal dormidas da semana que passou. Deitou em sua cama e foi nocauteado pelo sono invisível.
Dormiu e não sonhou. Quase nunca sonhava. Era um homem racional. Um homem cético ao extremo. Um pouco narcisista. Narcisista na medida certa. Sempre pensou assim. Sempre negou os três pilares da sustentação humana segundo sua própria filosofia: a psicologia, as drogas e a religião. Isso era para os fracos. Tinha orgulho disso. Fazia sentido ter. Havia um pouco de verdade naquilo. Todos sabem disso.
No dia seguinte acordou com uma amnésia emocional permanente. Algo que não valeria a pena ser lembrado.