Um rio que desce trombando nas pedras,
carrega gravetos, corre noite e dia,
se guia por entre caminhos estreitos,
vai tomando jeito, fazendo sua cama,
vai levando lama, só desce, só desce...
E como uma prece, se escuta seu choro,
reflete cor d!ouro, o sol que lhe brilha,
seguindo sua trilha, descendo o morro.
Vai cruzando montanhas e deslizando em vales,
vai juntando males em todo percurso,
de si bebem água, animais como o urso,
água não mais pura, manchada fulgura,
já contaminada de restos humanos,
dejetos mundanos, se vai poluindo.
Outrora tão puro, tão limpa a nascente,
apresenta indícios de um rio doente.
E agora meu Deus, o que ei de dizer
de um rio que jorra a fonte da vida?
Em toda descida encheu-se de nojo,
carregando em seu bojo a fúria humana,
de mentes insanas que degradam o amigo,
carregava consigo a vida saudável
em aroma agradável, não tem mais sabor!
É veneno puro, que dele beber,
certo, vai morrer!
Chegou lá cansado
de ter viajado um longo trajeto,
pra trazer à vida, saúde e prazer!
Não dá pra beber, mataram o coitado,
foi muito açoitado por humano indiscreto,
e jaz-abjeto, desprezou-se a vida!
A vida acaba, chegará o fim,
e tenho pra mim, que a raça humana,
ninguém me engana, subindo ao topo,
tenho por escopo, vai se exaurir!
Então Deus vai rir
do desgraçado homem, que tudo consome
deixando seu lixo e até mesmo o rio
em breve cochicho, lançará um deboche
daquele que a isto trouxe, já não há mais vida,
deixaram-me assim.