Havia uma pequena flor
Embaixo da minha janela.
Parcialmente despetalada,
Desbotada em sua cor amarela.
Solitária, ela contemplava um cravo
Numa janela vizinha.
Sendo que um imenso jardim
Separava a outra casa da minha.
Um dia pude notar
Uma pétala que pairava no ar.
Vindo cair ao pé da minha flor,
Advindo do cravo que acaba de se despetalar.
Em seguida, como se em resposta,
Uma pétala da minha flor vôo.
E como pluma de cisne branco
Ao pé do cravo pousou.
E notei que ambos estavam despetalando-se
Todos os dias como uma forma de comunicação.
O jardim separava-os,
Mas isso não os impedia de manter relação.
Parece ser loucura, e que seja,
Mas saí de minha casa para a casa vizinha.
E após uma conversa tomei a decisão
De juntar duas vidas à minha.
Todos os dias quando abro a janela
Vejo um cravo e uma flor se abraçando.
Ambos com pétalas viçosas,
Talvez mudamente se amando.
Quando abro a janela
Vejo um pequeno cravo e uma singela flor.
Dizendo em palavras mudas
Que a distância não separa um verdadeiro amor.
Quando eu abro a janela,
Vejo-me presa a um jardim.
Tão desbotada, parcialmente despetalada,
Olhando um cravo que talvez também olhe pra mim.