CONFISSÕES DE UM TUAREGUE

Eu sou o bípede do deserto
sobre o quadrúpede camelo.
Ser do sol em zênite na cabeça
e seis pernas longilíneas de duas montadas,
no navio das areias. Caminhando sem destino
pelo instinto, entre o rumo dos achados e
perdidos, sobre dunas escaldantes e
resplandecentes, e sob noturnas
abobadas estelares .

Caminhamos por caravanas em câmara lenta,
vamos e vamos, vindo e indo
sem a hora de rir, quase sempre
sem o colo de uma mulher,
olhando . . . sem nada ver.
Nós somos as sombras sonolentas,
vieses das jornadas do tédio, das vísceras
na inconcebível sede inacabada.

Chegados em contos de mil e uma noites,
donos dos espaços que ninguém quer,
sem que ninguém nos queira.
Lutando contra um mundo novo e . . . perdidos.
Vestindo índigo blue. Tristes: somos os
homens azuis, sem lágrimas pra
chorar. Chorem por nós, mas não
enderecem a piedade desnecessário dos vossos
prantos. Só peçam a Alá por nós. Nossos espíritos vagam,
no solstício da luz solar, somente interessados em perguntar,
acima das labaredas do sofrimento . . . qual a saída ?????