No silêncio perfeito da hora morta (re-re-reeditado).

No silêncio perfeito da hora morta,
nas percussões de um tétrico tambor
Ressoa o sonido aterrador
Das batidas que agora, ouço à porta,
 
Lá fora, no silêncio sepulcral,
Um bramido lamentoso vem d’umbral,
um onírico alarido visceral,
que a monótona cadência, as vezes corta.
 
Insiste o escárnio  tormentoso
que perturba, dos espectros, o repouso
 inquieta as almas mortas, e nao ouso,
sorver o  fétido olor da catacumba
 
o corpo túrgido, volumoso e antagônico,
em grotesca posição, repousa cômico,
como a dançar no ritmo lacônico
da  monótona cadência da zabumba.
 
E a vibração me dilacera peito e costas,
que intumescidas e putridadas, jazem  postas,
os artelhos e as falanges, já expostas
dedilhando no ar gélido da tumba,
 
tamborilam  entre os trapos, sobre o peito
do féretro macabro e putrefeito
marcando o andamento da macumba.
 
Uma coruja pia ao longe, e um bacurau
Num lamento agourento e gutural
Anunciam a partida ocasional
De outro ente condenado à solidão
 
E a cada golpe do tambor, que me encerra
Ainda mais, na escuridão, a alma berra
Ao retumbante ribombar  da  pá de terra
Derramada sobre a tampa do caixão.
 
Mais fundo ainda, mais escuro e abafado,
Já então completamente encerrado,
No seio acolhedor, repouso só.
 
Já não sofro dos anseios que já tive,
Nem das dores e amores de quem vive
Finalmente, sinto a paz, e agora livre
Me entrego, e lentamente volto ao pó;

 

(Resgatei esse poema antigo, pois é exatamene assim que eu me sinto).