As Indumentarias Irônicas do Amor

Um dia me descobri manhã e sonhador
E o amor vestiu uma mulher de ideias feitas
Experimentada, insinuante, de fala ordenada,
Vivida de paixões há tempo ausentes
E a deixou mostrar-se em meu caminho
Tímido, perplexo, embaraçado
Ante a feminilidade a minha frente
Eu  ingênuo e inábil, gritou-me a razão:
-Não é momento, espera, virá outra
As pretensões daquela tive que dizer  não
 
 
Um dia me vi inicio de tarde,  poucos sonhos
Surgiu em minha vida a mulher madura
Já senhora da corda de areia de grãos de experiência
Eros, eterno brincalhão, sádico  e irônico
Vestiu-a de tons cinza, vincos faciais, óculos de grau
E levou-a a falar-me de um amor oculto, impossível
Doloroso   saber-me o seu amor platônico
E a senti ali, triste, solitária e por demais carente
A mesma voz dizia-me:- Virá outra
Então fui só silencio, fiz-me ausente
 
 
Hoje me notei principio de crepúsculo, realidade pura
A  outra, promessa da razão,  embalada em juventude
Dança funk a minha frente em inexplicável frenesi
Incoerentemente vestida,  piercing mania, tatuagens
Por vezes para, me abraça com carinho, as  vezes me beija
Volta a sua dança complicada e tenta explicar-me
A  musica que canta em  detestáveis  vícios de linguagem 
Sinto-me deslocado em meu próprio recanto
A voz, quase inaudível, murmura lá do fundo: - Não virá.
Por que, Eros, por que, me fez esperar tanto?
 
Então, dos grotões do eu profundo, em doce castigo, brota a voz terna e doce de Gigliola Cinquetti:
 
“Non ho l’etá.... Non ho l’etá per amarti…