Passagem de ano

 

Ontem a chuva caiu  apressada

Na água reflexos,cheiros e cores

dos arbustos,dos pássaros, do  céu

de vidas...

Figuras decompostas pelas horas

Na mesa de vidro, ao relento

As páginas do grande livro  já viradas

Percepção do entardecer precoce

O vento suavemente soprou, maresia

Sibilando pedaços de  frases

Próximo à escadaria do branco terraço

Entre as brumas verdes e alaranjadas

Canetas expostas com novas tintas

Lá do alto, próximo às estrelas

Corujas ajeitavam seus ninhos

Assustadas com os  barulhos da estação

O céu aos poucos turvava, entre nuvens

O mar foi parindo, lentamente, a noite

Na orla, a lua ansiosa apareceu

Revelando  desenhos ocultos da existência

Nos ermos domínios da madrugada

Na areia da praia quieta

Pescadores com suas redes

Entoavam cantigas, trovas e rezas

até o sol nascer

espelhando seu rosto redondo no oceano

no primeiro raio de luz que  inaugurou o dia

ao longe iam os navegantes

levando consigo os desejos, as aflições,

os resmungos do mundo e suas preces

Mar em calmaria, ondas do sereno exílio

Passagem de ano