Em um deserto,
Deserto de idéias, de vida e de esperança.
Espero que todos saibam,
Ou possam entender Toda a dor, toda a coragem,
Todos os sofrimentos e angustias.
Que estão contidas na palavra Deserto.
A areia é seca e fina,
O ar quente, um forno,
Alimentado pelo calor do sol.
Os homens cobertos de areia,
Eles são mais homens.
Eles sobrevivem juntos,
E são companheiros, sim.
A importância de preservar-se,
Da noite e do frio.
Essa prioridade constante.
Que transforma o exercício da fraternidade,
Num ato heróico e subjetivo.
Anda-se ao lado de seus camaradas,
Mas estes também são seus inimigos
Divide-se com eles suas ultimas sobras de energia,
Energia num deserto é vida,
Dividir a vida quando é tão pouca a que lhe resta.
Transforma todos que a desunem
Em desafetos nocivos.
Os homens não encontram seu poço.
Ou melhor, encontraram-no seco.
Sem vida. Impossibilitado de lhes restaurar a própria.
O próximo poço ao norte já é inalcançável.
Perdidos diante do abismo.
Eles convivem com a sede e com a morte!
Espero que todos saibam.
O significado da palavra Sede.
Os homens param,
Suspendem seus sonhos, suas criações, seus planos.
Até mesmo as intrigas e as desconfianças.
Todos subitamente são invadidos por uma ternura.
Uma condescendência com o seu próximo.
Sentem pena do outro que respira inevitavelmente,
Suas ultimas horas de vida.
Mais que nunca descobrem novamente a amizade.
Os camelos há dias já saciaram suas sedes.
As últimas gotas já haviam sido consumidas.
Já não havia mais camelos nem esperança.
Só homens. Logo mais apenas areia e vento.
A cada um cabia um sentimento interior.
Que tentavam poupar de seus companheiros.
Desespero, ansiedade, solidão e morte.
Então ao longe surge:
“-A caravana de Agadir estamos salvos”!
E estavam!
Com seus cantis repletos e úmidos.
Com sua vida estocada em pequenos sacos.
E que seria servida em goles a todos.
E todos novamente se tornariam homens.
Ao tocar o recipiente com água fresca,
Sem mesmo precisar bebê-la ou senti-la com a boca.
Cada um saciava sua sede.
Nem era preciso ingeri-la para lhes renovar a vida.
Apenas a presença da água,
Já transformará cada homem
Na mais pura e feliz das crianças.
E todos sorriam e abraçavam-se!
Cento e vinte dias depois.
Uma caravana de mercadores vindos de Agadir,
Encontraram treze homens mortos.
Já castigados pelo sol e pela decomposição,
Seus rostos sorriam a mais alegre das mortes.
E a mais miserável das vidas.