Violetas (Proverbial II) SEXTINA


Imunes vão ficando as violetas
e o Inverno diz que somos uns coitados.
“Esperem” — diz o bruto — “eis que o Verão
verão estorricando as suas almas!
Será, então, mui tarde, pra vocês”!
Eu ouço a sua voz, estremecido!

Se no nordeste o chão estremecido
não serve pra plantar mais violetas
no forte Inverno, como é que vocês
não temem porque nós somos coitados
ao ponto de deixar as nossas almas
incautas pra enfrentar novo Verão?

Quem temerá o próximo verão?
Não culpo quem ficar estremecido.
Melhor é nós salvar-mos muitas almas
plantando nelas tons de violetas
que estão já desbotados, os coitados,
e não avisarão mais a vocês.

As mudas eu forneço e é só vocês
Plantarem antes que venha o Verão.
Não fica bem o título “coitados”
Pro grupo que estiver estremecido
Sem ter nos seus quintais das violetas
Que trazem esperança para as almas.

Àqueles que inda pensam chamo almas
das raras nesse mundo, olhem vocês!
Mas custa entenderem violetas
No ápice que vem em pré Verão?
São tenras, deixam ser estremecido.
E os tons parecem ver n’outros, coitados!

Saiamos desse grupo dos coitados!
Sigamos como seguem sábias almas
deixando o inimigo estremecido.
Amigos, nisso eu conto com vocês!
Assim não queimará o vil Verão
O que sobrar das lindas violetas!

Violetas dão lições para coitados:
“Verão pode até ser um bem pras almas.
Vocês são mais que um povo estremecido”!

Ronaldo Rhusso


A sextina é um dos sistemas estróficos mais difíceis e raros. Criada por Arnaut Daniel, no século XII, foi usada por alguns dos grandes poetas, como Dante, Petrarca, Camões, etc. No Brasil dela se utilizaram Jorge de Lima, Américo Jacó, Waldemar Lopes, Edmir Domingues, Dirceu Rabelo, Alvacir Raposo, Marcos Loures, Nilza Azzi, Paulo Camelo, Ronaldo Rhusso e outros.
Compõe-se de seis sextetos e um terceto final, a coda. Utilizando versos decassilábicos, tem as palavras (ou as rimas) finais repetidas em todas as estrofes, num esquema pré-determinado. Assim, as palavras (ou rimas) que aparecem na primeira estrofe, na seqüência de versos 1, 2, 3, 4, 5, 6, repetem-se na estrofe seguinte, na seqüência 6, 1, 5, 2, 4, 3. E se faz a a estrofe seguinte a seqüência 6, 1, 5, 2, 4, 3 em relação à estrofe anterior. E assim até a sexta estrofe, finalizando os sextetos. O terceto final tem, em cada verso, no início e no fim, as palavras (ou rimas) utilizadas no poema todo, na posição em que se apresentaram na primeira estrofe.
Ezra Pound, referindo-se à sextina, disse: "A arte de Arnaut Daniel não é literatura. É a arte de combinar palavras e música numa seqüência onde as rimas caem com precisão e os sons se fundem ou se alongam." Ao que Edmir Domingues objetou, dizendo: "Mas é este o objetivo de toda a verdadeira poesia, o perfeito encontro entre a forma e o conteúdo, entre a linguagem e a música".
Exemplos de sextinas podem ser vistos, lendo-se "Sextina da vida", "Sextina do amor-prazer" ou "Meu legado", de minha autoria, e aqui expostas.
Pessoalmente não as acho tão belas assim, ficando minha posição a meio termo entre a de Ezra Pound e a de Edmir Domingues.

Referência bibliográfica:
DOMINGUES, EDMIR. Universo Fechado ou O Construtor de Catedrais. Recife: Bagaço, 1996.

Paulo Camelo
Publicado no Recanto das Letras em 05/09/2005


P.S.:

Ronaldo Rhusso