Guardando os olhos,
Ocultados pelas pálpebras.
Sentir o coração desacelerar-se.
E esquecer-se, cansado de si.
Mergulhar num abismo e flutuar,
Entrar por um túnel sem fim.
Na certeza de estar vivo,
Brincar com a vida que ainda não foi.
Dedilhar os versos escritos em pedra,
Mistérios da origem, ocultas profecias,
Vencidas profecias, o por ser já foi.
Foi um findar que ainda não acabou,
Não termina, não tem prazo,
Os relógios não marcam este tempo.
Tempo e toda a sua indiferença,
Não ri, não chora, nem mesmo zomba.
Incorruptível, determinado e inexistente.
Tão poderoso e ilusório.
E eu tão fugaz, frágil agregado biológico,
Insisto, desafio em rebeldia inútil.
Pois viver é ato insensato
Ante ao poder de morte.
Migalhas da alma, sobras de pensamentos.
Cacos de sentidos e sentimentos.
E os passos continuam,
Na paz guerreira de mim.
Uma armadura de silêncio.
Um escudo de ironia.
Uma língua tímida.
E no rosto,
Uma expressão distante,
Muito longe, perdeu-se,
Como fuga dos encontros,
Recolhe-se ao coração.
Vê graça nos afetos,
E sorri sem denunciar-se,
Para ocultar-se no leito da alma.