humano

o mundo está cansado de pessoas.

meio mundo vive cheio de nada.

todo mundo finge que vive.

quem a voz saltita, reprime:

chega de pessoas, preciso é de gente!

 

gente caminha de bobeira na calçada,

sem temer o desajuste do passo.

no peito carrega canastra de sentimentos,

seus olhos são feitos para ver

e as mãos para sentir.

 

gente toma sorvete com a gola,

as pontas dos dedos e o nariz.

acima de tudo, gente que é gente

sabe solver os sabores quentes

de um beijo gelado.

 

gente não tem medo da nudez

de ser o que realmente é:

espírito eterno e sublime.

seu desapego é como um verso

de pureza e profundidade.

 

gente gosta de desamarrar o cadarço

e se enlaçar em ardentes cinturas,

sendo sincero até ao fazer

o afamado movimento

de afrouxar e apertar.

 

pessoas são projetos de gente.

elas não entendem que entre

seu microcosmo mal-concebido

e colher a manga no pé

há uma disparidade chamada verdade.