Sou um bicho, tenho caries,
Fuço as ruas como enxurradas,
Sou sarjetas quando nu,
Fujo só quando assustado.
Sou silaba que divide quando eu iro.
Palavras que se amontoam quando grito,
Uma janela que reflito quando espelho.
Eu parto em febre se preciso maturar.
Os meus olhos tem das ruas as fuligens.
Memórias das esquinas acidentadas.
Não sei dos dedos o que fomentam
Nem mesmo neles, o que rascunham.
Ás vezes, me quero barro: desenhando.
Pedaços de estradas, me levando.
Folhas de outono ao chão, se misturando.
Chuvas que acalentam coração; ninando.
Outras vezes, sou semblante desfigurado.
Sob o céu em cinzas da cidade em flagrante
Da poeira que se ergue sou errante
Num estado de verbos indefiníveis: as coisas são.
Eu quis a poesia, mas a terra me deu laços, adoeci.
Partilhei segredos fúteis e violei canções, amanheci.
Cheguei aqui entre seus dentes como fome, ameaçado.
Acido que corrói a alma sem saber o que ainda é são.