DAS PEDRAS QUE ROEMOS (VI)

 
VI – REVOLUÇÃO INTERIOR
 
Minha mão de humano, na verdade, é de ferro, desumana.
Ponho nela um morteiro e uma metralhadora.
Escondo na gaveta as boas intenções.
Tenho um verbo conjurado e sádico guiando meu pensamento.
Nos vales, nos descampados, grito meu verbo sussurrando.
No centro da metrópole maldita, sussurro meu verbo gritando.
 
Parto às guerras levando uma pequena no bolso da camisa.
E quando morre um companheiro, olho-a apenas,
como quem não tem mais nada a ver.
 
Meu tempo não é moderno, não, é antigamente contemporâneo.
Não reviso pareceres – profundamente radical – bato o pé,
não enxergo nada nas telas.
 
Domestiquei um leão, mas tenho um cachorro raivoso
latindo por minha boca.
Toda manhã, o cachorro acorda cedo
e, com muita sede e fome, olha-me rosnando.
Este cachorro – que pela madrugada destrói os canteiros que planto durante o dia –
é meu maior inimigo.