Tem beijos que faz tremer a veia
e o lábio sôfrego logo ateia,
ou té paralisa;
É beijo de amor que num repente,
desliza na face sorridente,
qual na flor a brisa.
Feliz decerto é o colibri,
que beija estas flores e sorri
ao céu de verão.
Feliz é o oceano cantante,
ele é da praia o garboso amante
e beija-lhe a mão.
Tem beijo tímido pela noite,
tem beijo que estala qual açoite,
tamanho o prazer.
O beijo é uma linguagem estranha,
o sol beija no dorso a montanha
sem nada dizer.
Que beijos ao luar de Veneza!
Que beijos aos pés da natureza
deve-se, então, dar!
A donzela só pede um beijinho,
o pássaro dá beijo em seu ninho,
o nauta no mar.
Verteu fogo o beijo doentio
na volúpia do Fausto sombrio
n`alva Margarida.
É tão doce um beijo apaixonado,
muitos beijos no leito do prado
que remoça a vida.
Têm beijos tristes nas despedidas,
ou doura tudo como os de Midas,
os beijos dos noivos.
Romeu beija a bela Julieta,
e Elvira que beija seu poeta,
e a virgem os goivos.
Tem beijo na boca que retumba,
o morto dá beija em sua tumba,
antes de dormir;
Assim, beija a mãe seu caro filho,
a treva beija da estrela o brilho
p`ra depois fugir.
P`ro indigente o beijo é mendigado,
da rameira carrega pecado,
mas ele é lascivo.
Não se fala de beijos de adeus!
como é lindo debaixo dos céus
um beijo furtivo.