Em madrugada fria, o silêncio é quebrado
Dores da noite remexem a consciência
Da compaixão do olhar que enxerga o pecado
No deserto da rua, a febre da existência
De um corpo sujo que no tempo é aprisionado
Por correntes sem elos quando a dor é convivência
No cotidiano que veste um futuro condenado
Herança de uma vida pobre, vítima da violência
Do acidente social que furta-lhe os sonhos
Vociferado em noites quando a fome é o grito
Da penúria sofrida de um destino não nutrido
Silêncio do desejo refletido em olhos tristonhos
Uma ferida sem cura de um coração restrito
Devorado pela vida que faz da cólera o seu rito