A TEMPESTADE

Tantas coisas do céu estão por vir
que fico deslumbrado com o futuro
Olho arregalado e busco imagens,
caçando sons e cores - fruto maduro!

O ar sendo abafado pelas nuvens
pesadas se arma em mais um jogo
e brinca aqui e ali que nem criança
que pula salpicando com o fogo

Não sinto a terra firme, os pés flutuam,
prevejo que tudo isso vai mudar:
o agora, tão distante do outrora
em muito pouco tempo vai passar

O campo aberto - é longe o horizonte! -
alarga em sinfonia, retalha vozes
dançando com o vento renovado
em passos soltos, loucos e ferozes

Em volta é tudo chumbo, cinza, plúmbeo
carregado de odores e de suores
Difícil é respirar os densos ares
- procuro outros dias bem melhores

E abro braços - também quero voar
no vendaval intenso pelos ares
que assanham sonhos e outros pensamentos
em busca de tormentas pelos mares

Raios, trovões - de longe um arco-íris! -
e o céu se abre largo em tempestade:
o som barítono longe ecoa e ronca
a despertar divina potestade

Rasgando dentro em mim as chuvas muitas
sempre a pedir que tudo se renove
molhando o chão - dilúvio em minha alma
que também chove, chove, chove, chove

E fazem renascer sementes mortas,
alagam de amores abandonados
que nunca a esperança deslumbraram
- seres em tantas vidas renegados

E a trovoada ronca, os raios partem
em mil pedaços - fontes de desejos! -
metade deste céu que é meu, que é teu
e não é de ninguém - Que chova beijos!

© Fernando Tanajura