OLHOS DE MAR

No abrigo do teu peito repousei meu amor.
Qual viajante cansado, com frio, desolado,
Buscando refúgio, me vi amparado
Pelo suave aconchego do teu calor.

 
Sem medo deitei-me sob tuas estrelas,
Que de tão numerosas era impossível contar.
Relutante meu barco estendeu suas velas
E ousou navegar em teus olhos de mar.

 
E assim penetrei em tuas fortes correntes,
Agarrado a meu leme com unhas e dentes,
Esperando algum dia encontrar o teu cais
Para ali me quedar e não partir nunca mais.

 
Ventos fortes surgiram e teu mar agitaram,
Vagalhões gigantescos meu barco açoitaram.
Enfrentando tal fúria, como não naufragar
Tendo só o coração em que me agarrar?

 
A tormenta por fim acalmou seu furor,
Revelando teu cais e amainando minha dor.
Então nele eu te vi, peito aberto, rosto em flor,
Esperando acolher-me em teus braços de amor.

 
Ventos, relâmpagos, chuvas violentas,
Feliz eu singraria as mais fortes tormentas
Pelo prêmio sem preço que é poder navegar
No imenso oceano de teus olhos de mar.