Dessa morte, não sou dono e ainda sofro
Dessa vida, severino sou em desconforto
Andando nesse mundo entorpecido
Cansado de viver nessa vã terra
Pelas eras que vivi em poucos anos
Dos sonhos que sonhei em larga escala
Dos sonhos me mataram em longo pranto
Da criança que morreu de madrugada
Sou eu nessa terra chagada
De sangue, de todos os pobres
Banhada
De fel entre ricos e sujos
De mentira entre gente educada
Do ódio por trás de elogios
Bajulações, de pessoa adulada
Tragada, envolta e crescida
No próprio ressentimento
No ideal que busco, não cabes,
Nem ninguém que de humano se chama,
Nem nada que nessa terra viva,
Nem eu mesmo que de muito esforço
Me tomo e em luta me dôo
Para que o ideal me seja alcançado
E agora, sim sou, esse mortal cansado
De andar falando pro nada
De nada me encho num trago
Dessa vida sem mais essência
Dessa morte na madrugada
Nesse mundo sem compaixão
Onde vago sem mais direção
Esperando do sangue e da chaga,
Da dor e da perda
Um ínfimo de escrúpulo sequer,
Nascer de uma alma sofrida
Do ventre de alguma mulher
Davi Abreu Wasserberg