Ontem fez exatos 20 anos que meu avô João faleceu, e certa ocasião, num dia ensolarado e rodeado dos seus sete netos, pediu que sentássemos em volta de uma mesinha de centro da sala de estar e pediu com visível satisfação que prestássemos muita atenção nas regras do jogo dele: disse que todos deveríamos aceitar o resultado e que não poderia haver arranjo da nossa parte para remanejar o resultado. Dissemos eufóricos que ok, mas não sabíamos ao certo o que viria a seguir. Foi então que ele pegou 7 caixinhas de fósforos, retirou os palitos de dentro e em 6 delas colocou a maior cédula existente na época e disse: agora pedirei que um a um retire uma caixinha de fósforos e aceite o que estiver dentro dela. A minha ordem se inicia pelo neto mais velho até o mais novo, um a um, e quem ficar com a caixinha vazia, deverá se contentar com a brincadeira, ou seja, os 6 netos felizardos não poderiam somar o dinheiro e dividir por 7 a fim de contemplar todas as crianças. Me lembro de olhar pra minha mãe, que estava feliz com a união em torno daquela mesinha por uma brincadeira tão lúdica e tive certeza que a pegadinha estava por vir! Acertei. Meu irmão tirou a caixinha cheia, eu, e assim se sucedeu até o penúltimo neto aonde o suspense pairava sobre os primos gêmeos, sendo quase certo que um deles não teria a sorte grande! Nós crianças gritávamos eufóricos já quase roucos para saber quem seria o desafortunado.... e então nosso avô pediu aos dois últimos que abrissem juntos as caixinhas, e depois de tanto sofrimento para sabermos o resultado, havia dinheiro nas duas caixinhas... curioso perceber ali que aquilo que aprendemos rindo, valeu bem mais do que aquilo que ele nos ensinou com a brincadeira.
Às vezes na vida, a gente ouve a estória, as regras, e por alguma razão julgamos antes do tempo sem perceber que existia naquela estória ou regramento muito mais do que conseguíamos enxergar quando avaliamos. Quase sempre o todo se desvenda no tempo certo, não necessariamente no tempo que gostaríamos!
"Experiência não é o que nos acontece,
mas o que fazemos com aquilo que nos acontece.”
Aldous Huxley