VÃ GLÓRIA!

 
Revejo nas tuas pedras calcinadas
a insaciável loucura do cifrão.
E ouço os seus gritos, desesperadas,
denunciando crimes de mãos caladas
que sufocam e envergonham a nação!
 
Toco na tua cristalina água
e vejo quanta mentira repetida
cabe na minha promessa. Sem mágoa,
de novo acalmas a minha frágua!
Nela, meus lábios sedentos de vida
 
mergulho, ignorando que não mereço,
 porque calo, consinto e não castigo
quem pela calada e sem tropeço
o teu cobiçado corpo põe possesso
e o transforma de rico em mendigo!
 
Vejo tuas árvores quedas de medo
gritando de dor por tamanha agrura!
E sinto-me cúmplice nesta secura,
que também é minha e me deixa quedo,
porque me dás sustento e formosura!
 
Vejo os teus belos animais perdidos,
fugindo às cegas, confusos, correndo
em contramão aos seus amores ardidos,
postos em fuga e sem dó perseguidos
pela mão secreta do crime horrendo !
 
E vejo-te de novo viçosa, capaz,
crescendo bela, outra vez renascida
na indiferença de nação incapaz,
que não acusa e se sente em paz
perante os crimes com data sabida!
 
Fico espantado com o teu renascer
na imensidão da tua beleza!
Nos teus rebentos de novo a crescer
renovo a promessa no meu e teu crer
prendendo a mão que teu corpo despreza!
 
Espantado com o teu saber ancestral,
que nos ensina, quão vã é a glória
desta programada acção feita do mal,
que nos castiga, te fustiga sem igual,
nos trás medo e ao crime, vitória!
 
Fico espantado com tua postura
Porque fazes das cinzas o teu sustento!
E do teu corpo em chamas e secura
brota água, nasce flor e frescura
e renasces com amor e sem lamento!
 
Queimada, após queimada, sem sentido!
Crime atrás de crime sem julgamento,
Castigo, após castigo, sem castigo,
alimentas quem em ti busca abrigo
e quem teu corpo coloca em tormento!
 
E quando a mão criminosa se finar,
do seu pó, farás terra do teu sustento
e nele crescerá fruto do teu amar
feito em flor. Será colhida no lugar
e na mão do finado sem julgamento
 
será deposta. Então, tua vingança
será cumprida, quando a tua linda
flor com aroma de dor, sofrer mudança
e da serra, agora posta em bonança,
o seu maior carrasco for cheirar. Vinda
 
da serra, regada com suor e chorar,
o seu queimado, forte e rubro odor,
em dança ao criminoso há-de chegar!
Será o seu castigo, culpa e penar
em dança feita de ódio e amor!
 
Dança que não sabe e não quer dançar,
porque dela, apenas conhece dor!
Com amor, exalas teu perfume no ar,
enquanto  sua vida na cova durar,
enquanto o seu pó não for amor!