Eis que de repente foge-lhe o talento,
a inspiração voa com o vento, ao relento
e cabe ao poeta a desolação,
o navegar solitário na imensidão
onde sombras soturnas irrompem da escuridão.
E as armas do poeta que o deixavam em pé,
a esperança, a fantasia, os sonhos, a magia
roubam-lhe a alegria, o alento e a fé
estilhaçadas num chão íngreme e ressequido,
palco onde o mal é personagem principal.
Dá-se por vencido, desiste do bom combate,
fica-lhe difícil acreditar ou perceber
que depois da noite escura vem o amanhecer,
que a força maior está no amor e na bondade,
tão perdido em suas percepções da realidade...
Esquece-se que nos entremeios da mágoa e da dor
reinam as maravilhas da Criação, do criador,
belezas geradas pela arte , pelo coração,
pelos sons do riso, versos de improviso,
de esperanças sussurradas e celebrações
de vida nova e transformações,
de reconciliação e de perdão,
indo sempre mais além...
onde o mal contundido se rende ao bem.
Carmen Lúcia