Caminhos

Sobre mim abateu-se uma larga penúria,
um desejo de não querer nada,
uma lembrança de exigir tudo,
uma vontade lastimável de desistir,
deixar de existir,
procurar outros rumos, assim, não vivendo a minha vida,
na esperança de encontrar alegrias noutras estradas distantes de mim.
Eu não estou triste, não sei o que é ser triste,
eu não estou feliz também, não sei o que é ser feliz,
eu mal vivo, o tempo passa tão depressa
que pouco consigo fazer o que quero,
nada organizo, pouco resolvo,
eu não sei me sentir, eu não sei ser quem eu sou,
eu estou tão madura, é tão assustador crescer,
saber que fui infantil e não poder sê-lo,
é como sermos outra pessoa,
estou tão confusa com as mudanças,
com as novas coisas em que eu penso,
com as novas coisas com que me ocupo,
é como não saber tomar decisões,
estar em coma, não saber o que é melhor,
é como se, eu tivesse duas estradas a minha frente
e uma delas estivesse tomada pelo fogo e a outra
segura, tranqüila e convidativa e mesmo assim,
não saber que decisão tomar.
É como não ter consciência de que ali há fogo
e não ter consciência da segurança pela outra oferecida.
Às vezes me encontro pensando que,
não há caminho algum,
nem de fogo, nem de tranqüilidade,
às vezes me encontro duvidando da vida que eu levo,
duvidando de ser, de estar, de querer.