Salva-me, Oh Meu Príncipe Encantado!

O que pode intervir num momento tão infeliz como esse, impelir esse sonho banhado em desgraça e fraqueza absoluta, composto de ignorância, meneado com despeito, de acabamento pérfido e superficial? As sombras do conhecimento não podem livrar-me deste estado, pelo contrário, suas divinas ruínas afogam-me sem piedade instante após instante. Nada intervem, nada ultrapassa a cólera desse cálice que bebo, a fim de privar-me da razão e da dor entorpecente, que eu tristemente não engano, e que eu dou-lhe forças e vitalidade através de meu pesar, minhas lágrimas lavaram meu rosto nesta manhã, e amanha será tudo igual, ao espectro de meu espírito nenhum consolo demasiado firme e verdadeiro é possível amenizar sua terrível decepção. E nada me resta além de acordar, morrer mais um pouco e voltar a dormir, pra acordar noutro dia e jorrar pouco mais do lago de lágrimas que repousa em mim.
E não me cativam mais as pessoas que descubro existir dia após dia, sou um rochedo cuja tranqüilidade foi roubada violentamente de seu habitat beira mar e atirado com mãos sujas e grosseiras num campo de concentração. Meu sono diante da vida é mesquinho e pobre de afetos, uma existência rica em inutilidade, rica em sujeira e ambição imposta. Invejo-me tanto quando criança, quando meus conceitos que a mim ainda eram apresentados com delicadeza ou com brutalidade, não desgraçavam meus sentimentos e nem me impedia de sonhar e acreditar em felizes estações.
Recostar-me-ei sob meu túmulo de vida e rezarei para que não sequem minhas lágrimas em milênios de choros intermináveis, de existências desafortunadas e irrecuperáveis.
Nada fica imóvel durante muito tempo, ou crescem, ou diminuem ou desaparecem, o certo é que são muitas as coisas mutáveis, senão todas.
Procuro meio a escuridão, ver se enxergo a mão estendida a mim, a mão que está em algum lugar, a mão estendida de meu Príncipe é o que me livrará dos males dessa angústia, tal salvação existe e eu procuro o resto da criança que ficou em mim a esperar por esse momento, sabendo ela que eu a precisaria quando a escuridão tornar-se-ia insuportável, a fim de buscá-la e através dessa infantilidade que eu guardei em mim por tempos poder salvar-me.
- Salva-me meu Príncipe Encantado, venha com toda a sua luz iluminar meus olhos sorridentes ao vê-lo, salva-me, dê-me sua mão, ponha-a ao meu alcance, permita que eu a encontre brevemente, derrame sobre mim sua brandura e maravilhas de um espírito elevado, sei que sua mão ergue-se para mim em algum lugar, deixe-me remota desilusão, procurá-la, beijar-lhe o seio de concentrada beleza, deixe-me em paz desalento, para encontrá-la com mais eficácia e rapidez.
No estalar desse suntuoso coma, acordarei em braços teus, como sempre sonhei, Oh Príncipe Meu! Que os anjos do céu acolham meus clamores, como acolhem meus louvores em dias menos infelizes. Pai celestial, benevolente e afetuoso, faça que o céu abrace-me e as estrelas cubram-me do frio destes dias, Meu Príncipe não tarde mais ao meu encontro, quanto mais hei de implorar para isto!
Que nem como um triste rochedo, Oh, meu Príncipe eu pude esquecer-me da profundidade do nosso olhar, que nem em escuridão, Oh, meu Príncipe eu pude esquecer dos dias iluminados vividos ao teu lado, que nem nessa fraqueza meu Príncipe, eu deixarei de continuar lutando para livrar-me dessa agonia de viver submersa em clamores e fraquezas.
Acredito menos estar sendo derrotada quando nos meus sonhos você me envolve com sua beleza e doçura.
Amar é velejar por águas desconhecidas e sentir-se em segurança nessa aventura, amar é não temer o naufrágio, amar é não lembrar que existem os botes salva vidas, amar é viver o sentimento com toda perplexidade existente, sem temer a fúria dos mares.
Contemplarei as trevas se possível for, com o auxilio de teus encantos Príncipe de minha vida. Mergulharei em segurança nos espinhos dos pântanos sangrentos, meu querido, por confiar que estará do outro lado, me esperando ao termino de tantas dores, para curar minhas feridas, beijando-me no coração oprimido e esperançoso. Eu te Amo tanto Príncipe Meu, que suporto todos os dissabores da vida tendo em lembrança apenas alguns momentos nossos perpetuados em meu peito.
Prefiro viver vida alguma a viver uma odiosa e desacreditada.
Acho que já me atolei o suficiente por hoje, a insanidade sobrevoa meus passos e eu preciso continuar e viver minha vida.
Estou tão carente quanto um cão de rua, e o que me alimenta é esse amor que segue comigo.
Os rumores de minha alma aquietam-se e eu adormeço em meio a tantas tarefas.
E é em aprazível inconformidade que eu aborreço-me em conformar-me.
Posso até ouvir os latidos de minha demência, posso até casar-me com essa vastidão hedionda se quiser, eu posso no meu silêncio dizer tudo.