Pedido dolente

Minha projeção do espelho de tua íris
Esverdeada, incendiada pelo clarão do poste
Meu coração vermelho no teu cabide
Obsoleto, renegado, num jogo de má sorte
 
Você oscilando, intermitente a andar
Estou acampando do lado do telefone
Murmurando todo sempre o seu nome
Rezando pra tocar, pra você me ligar
 
Agora cá estou eu
Entre farelos de borracha
E livros de história
Nostálgica com o que ocorreu
Sei que não foi nada
Mas tramita na memória
 
Seu sorriso é o esboço mais valioso de Da Vinci
Do modernismo de Anita, tem a cor
Melífluo, misterioso como o enigma da esfinge
 Boca mergulhada numa poção de amor
 
Se essa poesia é mais do que prolixa
Que Deus se compadeça e pinte
Se minha unha precisa de uma lixa
Que o mundo inteiro se lixe!
 
Se for motivo pra viver de dar risada
Pois então, por Deus, não me faça chorar
Pra ressalvar a tristeza, por cima eu vou passar
Vou ruflar nas asas dos teus olhos cor de oliva
 
Giro numa fantasia cálida de ósculos
Ontem a gente ria na alameda
Em meio do salão da igreja
E sem os óculos!
 
A chuva gotejando e o trovão arrepia
Estou viajando e parece que te via
O cabelo fulvo, molhado
O ombro largo, pintado
 
Droga de telefone, porque não emudece?
Se você é um anjo, abandona o céu e desce
Vem velar meu sono, soprar minhas pestanas
Quero te ver amanhecer na minha cama.