Flexível

 

 

 
 

 

 
Num momento sua cabeça atingia
o exato vértice da virilha
suas pernas pareciam quebradas
ou feitas
de borracha
e o sorriso vinha
de uma orelha a outra.

 
 
 
Não era contorcionista de circo
nem acidentada de uma tragédia
tampouco personagem de comédia
e muito menos
figura abstrata
ou um Anime
de jornal...

 
 

 
Era uma mulher
e era real.

 
 

 
Flexível!
Como se pudesse ser possível
coçar a testa com os joelhos
como se fosse possível depilar os pentelhos com o calcanhar.

 
 
 
Flexível!
Como se pudesse ser possível flexionar amores ambivalentes
como se fosse possível ser valente
diante da atemporalidade que tudo resumiu.

 

 
 
 
Flexível!
Como o que ainda existe daquilo que nos uniu...
Pão

E poesia
E duas almas vazias
Flexionadas por dias
Onde amor de verdade
Um dia -sim- existiu.

 
 
 

 
Flexível...
Uma doce lembrança
uma suave lambança
de dois adultos
de duas crianças
perdidos numa tarde limpa
de sol forte
e céu brilhante
num desses instantes
em que toda a fome
-enfim-
sucumbiu.