ESCURIDÃO

-------------------------------------------------------------
"Você canta muito baixo, já não posso te absorver..."

"Uma gota de sinceridade escapa entre meus dedos.
Sinto-me revelar...
Mostro meus medos. Alguns deles.
E mesmo assim você não se satisfaz."

-------------------------------------------------------------

Os cretinos esperam pelas coisas que repousam ao alcance de seus braços. Eles não ousam possuir e nem tentam pegá-las para si.
Nem ao menos se atrevem a merecer. Por quê?
Talvez porque sejam cretinos...
Analisamos: será que nós - vulgos “intelecto normais” - também não esperamos por estas mesmas coisas? Todos nós depositamos cotas neste eterno banco de favores: nossa consciência. Neste ritual de enganação.
Alguns dizem que tem que ser assim. Outros apenas seguem o padrão universal das metas de consumo. Devoram em boas doses seu aforismo e seu desejo inabalado.
Porque estas escolhas estão sendo feitas?
Os nossos mais secretos desejos moram bem ali e não podemos tocar. Por quê?
Uma perfeita alusão dos sentidos e das controvérsias humanas.
Por que existimos se já não damos nomes as nossas lagrimas e nem tom a nossa voz?
Vocês já não falam de amor - eu por minha vez esqueci. Será?
Faltam palavras e linhas...
Esforços e inspiração para ter esta resposta pronta a todo o momento.
A quem devemos convencer? Quem além de nós mesmos?
Se, por um motivo ainda oculto dentro de nós, fizemos esta escolha é o sinal de que o mal se manifesta sem o consentimento humano.
Isso talvez seja a resposta.
Gritamos mais alto então. Será que só a nós cabe ouvir?
Entre erros e promessas... pesadelos e invenções vivemos.
Ou tentamos.
Será que somos todos assim? Banais demais...
Flores de beleza rara que já não cheiram e não provocam reações.
Apenas habitamos o nosso meio.
Não existimos o suficiente para valorizar a criação.
Somos fantasmas que pouco assombram.
Meu Deus! Somos meninos! Sozinhos e inseguros. Bobinhos demais...
Como á fácil viver!
Como isso se torna provável e útil.
Talvez a maldição que nos acompanha tenha muito disso. Essa mania de não permitir, de não dar espaços, de não se entregar...
Isso nos congelou, antes de tudo mais.
Eu já entendo, pois já não amo, já não sinto, já não sonho.
Olho para as belas mãos que sempre me tocaram e elas ainda estão ali: lindas e leves. Sublimes.
Elas continuaram quando o tudo morreu.
"Como pode uma parte sobreviver a todo o resto?"
Fechamos nossos olhos para esta resposta.
Às vezes é tarde demais para mudar velhas escolhas...
Acho que por isso eu minto meus medos, pois tampouco os compreendo.
Pois tão triste quanto reconhecer, é permanecer: morta!