I
Quem disse que sou negro?
Pode crer se enganou!
Negro é aquele irmão que veio da África
Acorrentado, Amordaçado e separado da família;
Negro é aquele que debaixo do açoite
Chorava baixinho nos porões fedidos dos navios;
Negro é aquele que foi arrematado no
[ Rio de Janeiro;
Negro é machado de Assis
Vulto histórico de valor
II
Quem disse que eu sou negro?
Certamente não pensou!
Negro é aquele que povoava as senzalas
Que nas ruas de São Paulo vendia quitutes
Que faiscava ouro nas Minas Gerais;
Que á noite tocava batuque
Buscando mais força que nos Orixás
Pra poder se esquecer de sua dor;
Negro é o grande Cruz e Souza
Cisne Negro – de poemas um cantador!
III
Quem disse que eu sou negro?
Pensamento embaralhou!
Negro é aquele que após a Lei Áurea
Foi ocupar os muros e a sarjetas;
Negro é aquele que se travestiu nas cores
Da miscigenação: cafuzo, mameluco, mulato
Negro é aquele que fugiu aos pares
Que enfrentou capitães-do-mato.
Negros era dizer mesmo a verdade...
Foi o grande zumbi dos palmares!
IV
Quem disse que ou negro?
Minha gente, nem falou!
Negro é aquele crioulo que faz samba!
Negro é o pardo que carrega o fardo de
[perna bamba!
Negro é aquele do sarava e do vatapá
Negro é aquele que constituiu o Brasil
Com sua força e que misturou as raças!
Negro – desperta desse sonho febril
E assuma o seu lugar. Ponha atitude!
Mostre o valor da negritude
Quem disse que sou negro
Eu replico, sim senhor
Sou um afro-descendente
Quero ser libertador!