Paixão,
Um dia, quase com uma imposição da vida, a conhecemos.
Vem não avisa, não se explica.
Se insinua, invade, assola, devasta,
Esquenta, instiga.
Dá vida, dá graça, dá sentido.
Pele, desejo, inconsciência, suor,
Lábios, fervor, calor... E mais calor.
Vai e não avisa. Não desaparece, mas esfria.
Persiste o Amor.
Não devasta mais, apenas constrói, enlaça.
É explicável, ponderado, consciente.
Seu calor agora é moderado, mas confortante.
Ainda dá vida, Mas pensa nos medos e nas perdas.
A graça agora está na estabilidade, na segurança.
O sentido da vida é esse enlace, a cumplicidade.
A pele é a capa protetora para sua sobrevivência,
O desejo, por vezes, suplica ajuda.
O respeito e a admiração contribuem
E assim perdura, resiste.
Menos freqüentemente, os lábios ainda se tocam.
Indicam a presença, a volta, a ida,
Ou: “-- durma com Deus, querida...”.
O calor vem, E depois do amor, um abraço, um olhar,
Sem despedidas. O tempo passa, a paixão passa,
A chama quase se apaga,
O dia a dia, a rotina, o envelhecimento
Conspiram para que tudo se acabe,
Mas o verdadeiro Amor prospera, acredita,
Obstinado a sobreviver um pouco mais a cada dia...
Ana Paula Pestana