segunda-feira

segunda-feira cinza
o sol semicerrado
se espreguiça cordial e jocozo
sobre o aparato dos mortais
que se cruzam de alvoroço
e nenhum assédio
seguem os compromisssos
na qual se misturam
saberes, poderes, deveres

- não há tempo para a poesia
na segunda-feira –

tampouco para o festio de toda
e qualquer arte
um dia mesquinho
para quem
sonolento e queixoso
e pouco abnegado
avaranda-lhe sentenciado

a segunda-feira
flerta e fomenta
a produção diária
as estatísticas
a renda per-capita
a fatura vencida
o capital de giro
mantém tesa a tese
da felicidade
financiada pelo contra-cheque
e todas as suas possibilidades

a segunda-feira prova
por a mais b
que o ócio tem limites
que não há tempo
para o encanto pela nostalgia
que é preciso separar
o joio do trigo
a vida da arte
a pessoa do artista

a segunda-feira
não tem paz