velhice de minha vida razão do meu padecer
a vida que estou vivendo já não compensa viver.
que saudade que eu tenho do tempo da mocidade
no sertão eu tinha de tudo, não sofria necessidade
viví até os dezoito anos sem conhecer uma cidade.
meu pai me ensinou de tudo na arte de trabalhar
cultivar a natureza sem ela prejudicar, armar um
anzol de pinda lá na curva riacho sem saber o que
ia pegar.
já fiz cerca caiçara já botei roça de toco, de tudo que imaginar
no sertão já fiz um pouco, já tive um mangueiro cheio com quatrocentas
cabeças de leitão, porcas e porco.
já toquei uma farinhada ralada na bulandeira
já criei bode injeitado com leite na mamadeira
por ver sua mãe morrer bebendo mão de poeira.
já moí cana caiana numa engenhoca de madeira
e com medo da pintada no meio da mata fechada
já corrí grandes carreiras.
já ví festa no setão só com sanfona e pandeiro
e as mulheres festejando passar a noite dançando
com um cabra dos pés ligeiro.
do sertão onde morei dele nunca me esqueço
hoje aqui estou vivendo meus ultimos dias sofrendo
uma dor que não mereço.