LIRA ENVERGONHADA

 

destituída de alegorias
anêmica, lira pobre,
nua de encantos e magias

falas inviesadas
um tímido sofrer
dores engasgadas

nem é canto
um sussurro
mudo pranto

um nada especial
arte envergonhada
de ser tida como tal

descerra cruas
friezas, asperezas,
negras brumas

é um penar melancólico
sem amores para louvar
um sóbrio alcoólico

sem jamais ter bebido
a seiva que devaneia
amantes embevecidos

nem lembranças fortes
que robusteça, enriqueça,
narrativas de importes

o que é, me pergunto,
um brado inúteis atos,
um sopro,sem assunto,


a escrever miúdo
a observar pasmo,
aterrado, este Mundo...