Estava em meu quarto, aquele mesmo. Sem teto, paredes espelhadas,
e sem janelas. Com apenas um buraco na porta, assim como a fechadura,
para observar as coisas infiltráveis.
Bateu a minha porta hoje, a amizade querendo conduzir-me até o fulano e aconselhá-lo, e ajudá-lo a criar seu próprio quarto de espelho sem teto. Mostrando o reflexo em todas as perspectivas e um mundo sem limites.
Aproximei-me do fulano. E, toda aquela situação desconfortou-me, meu conselho era visto de forma impura e complicada, o seu desejo de negligenciá-lo era maior.
Aquele amor da vida, pelo mundo que se mostra hostil, talvez não houvesse mesmo amor para contemplar, e a verdade extrínseca, substituída por uma mentira forjada a acreditar que, nesta grande família capitalista, não temos espaço para pensar no outro, os conselhos só são aceitos se vem de nós mesmos.
Voltei para o meu quarto, pensativo. E vi que talvez eu fosse um bobo, tentando lutar por algo inexistente para o mundo, assim como a fuga de um religioso, ou a felicidade de um bêbado.
Perdera eu, um espelho do meu quarto, e o teto aparecera. Eu era um bobo, que lutava por um amor que fugiu pela janela. Sei que existe, mas fugiu.
Ser humano é antônimo de pureza. Prova disso é o cruzar de nossos destinos num acaso, e os julgarmos como conspiração.
Chorei! Achei que o mundo, que já o conhecera como infiltrável em sua maioria já não era mais aproveitável, e digno de uma possível vida feliz, em paz.
Minhas paredes espelhadas agora sumiram, e o teto firmara-se no quarto. A porta escancarou-se e de lá, vieram dois indivíduos que se chamavam guerra e medo com sobrenomes Deus e capitalismo respectivamente. Meu tormento não mais se transforma em lágrimas, este abismo no meu peito já criara raízes, assim como já perdera o reflexo entre minhas paredes não mais espelhadas.
Agora vi, o mundo dos sete pecados capitais, o mundo que Deus um dia, se arrependeu de ter dado vida. E pensei! A esperança é virtude dos vagabundos e tolos, que apenas esperam na esperança.
E também pensei. Não quero ser um vagabundo, ou um tolo, viver sem amor, ser explorado, me descontar em vícios e morrer pela sociedade. Enquanto me colocavam no avião, eles, a guerra e o medo, entretanto, me conduzindo para a prisão social, para o conformismo eu vi uma saída, um petisco, uma oportunidade. Eu saltei de pára-quedas e então percebi que só assim, me arriscando na oportunidade de viver de verdade, poderia procurar o amor nas alturas que o vento conduzira desde que fugistes pela janela.