29/12/2008 16:37
Aquela velha dor aquece meu corpo e minhas mãos artificiais apertam meus ombros de leve num misto de carinho e precisão. Eu penso que me desacostumei a senti-la e já não posso suportar a idéia dela se alojando em mim. Olho para o espelho e um olhar ausente me observa em silêncio e toda minha dor não pode lhe tocar, não pode lhe ferir... olho lá fora e é primavera outra vez. Doces garotas fazem da solidão uma porta; eu me recuso, mas elas me obrigam a entrar. Seus mundos não são diferentes do meu, mas ali a dor não repousa e não me sufoca. Elas são loucas, mas eu nunca fui certinha (e quem é?); elas tocam meu rosto com suas fantasias, me fazem cócegas, me jogam no chão... ouço tolices! Elas me falam de seus pavores, de seus amores... dos dias em que o sol não aquece seus corpos e a escuridão as aconselha. Por um momento tenho uma certeza: somos deliciosamente iguais! Elas parecem ninfas, fadas, deusas... ou simplesmente meninas! Aquele instante não dura para sempre, mas consigo captar a mensagem... quando percebo que não consigo mais segurar suas mãos, me solto... Olho para o lado e apago a luz... perco o sinal. Olho novamente para o espelho e aquele mesmo olhar (antes ausente) agora me devora lentamente em doses largas, mas não me intimida. Sei dos pecados que cometi, das dores que eu não aliviei, dos momentos que não me poupei... percebo uma indiferença repousando sobre minha pele, mas minha armadura não cairá. Sorrio para você, pois não me restam escolhas... Sem roupa, sem culpas, sem molduras... durmo só!