Quantas vezes é interrompido o pensamento
Pela urgência do momento
Um filho quer colo
Precisa de aconchego
O marido quer atenção
Precisa de um chamego
O telefone toca de um jeito nervoso
A vizinha chora de modo pavoroso
Quer um conselho
Na esquina o cachorro late
Assusta o moço
Olho meu rosto vincado no espelho
O dia é só alvoroço
Será que está pronto o almoço ?
Socorro, a empregada queimou o feijão !
Não é possível... acabou o sabão !
Menina abaixa o volume do rádio
Não quero ouvir tão alta esta canção !
Mas até na urgência
Os versos se aglutinam
Em louvável e misteriosa cadência
As palavras se amotinam
Como bolhas de água fervente
Nasce assim mais uma poesia
Bem lá no fundo...
No interior da gente
* Úrsula de A. Vairo Maia *
* Favor manter a autoria do poema de acordo com a lei vigente no país, que assegura os direitos autorais.