Depois dessa vida errante, na busca de nada,
De sonhos e enganos, de vaidades febris,
Eis que invade a derradeira porta, tirana amante,
E te arranca das dores pela raiz, como uma ladra.
Desde aqui já te miro, inevitável morada!
Passaporte de retorno à vida, das dores guarida.
Feito semente atirada ao chão, a ti não aspiro,
Em vão iludir, afirmar que te espero a chegada.
Seu legado, de foice na mão, registra a história.
A fama que atinge seu nome até a alma arrepia.
Como aos ventos mais fortes em fria estação
Sua indelével lembrança não quer a memória.
Será falso o registro de então, terá sido engano?
Se tua presença se sente no verde viçoso da flora?
Se nutres as vidas na fauna com outras que já não o são?
Se fosses derradeira senhora, não seria poetizar-te insano.
Se em ti se refaz a vida, não és dela senhora.
É do Amor o projeto supremo a ser compreendido
Renovação do criado, por Ele cuidado, em perpetua lida!
O fim aparente, é semente, é o novo agora!
Silente auscultando, em toda esférica vivenda,
A lógica incoerente, do crente, pra evitar seu encontro:
“não me escolhas se por ti não me ponho cantando”.
Incompreendida liberdade doa o Filho em oferenda!
Perpetua a missão que é tua, paradoxal barregã do novo.
Seu domínio já era, em ti é ressurreição que antevejo!
Abrir-nos o Reino, é permissão que a fé preceitua.
Dois mil anos já faz, és rainha vencida e sem povo.