Parindo letras

 
 
 
 
Bico de pena, candente e afogada,
De tanto ir e vir ao vidro.
Em seu útero se fez de tinta impregnada.
E assim, aos pingos, grávida, engolfada,
Sustenta-lhe a geradora mão.
Impaciente, quase indignada.
Parteira e poeta,
Numa rápida flexão,
Certeira, correta,
Como se a cortar do umbigo o cordão,
Traz ao mundo, às palmadas,
Ou sutis rabiscadas,
Sem qualquer medida,
em papel pouco alinhadas,
Sempre uma nova vida,
Embalada em histórias quase esquecidas,
Ou nutrindo nova prole, linhas sentidas.