Estranheza

Há dias em que os dias parecem tão estranhos
Dias em que somos como estranhos
Diante do espelho mudos.
Refletindo o céu vermelho de entardeceres inéditos
De tantos dias iguais
Iguais como todos os diferentes.
Enquanto isso
A vida, calada, passa
E passando segue sempre o tempo
No pulso, no sangue
Na alma
E aquele sentimento desconfortável de inércia
Cresce.
Seguem no corpo os sinais...
A garganta e voz secando,
Incontroláveis...
No peito, como de costume,
O medo desse ou daquele
Serem apenas mais um dia
Mais um, perdido entre tantos outros
Imerso numa folha de calendário
Que segue imóvel na parede de uma casa qualquer...
Linhas de luz que entram rasgando pelas janelas
Revelam sem pena temores
De tantos rostos perdidos nas multidões
Com suas idéias perdidas
Entre tantas outras idéias
Soltas.
Talvez guardadas num baú
Por essas horas já coberto de poeira
Do resto do mundo ocultas
Para o agora e para o sempre.
E assim como as idéias
Os pensamentos e as temerosidades
Seguem ocultas as pessoas
Escondidas e estranhas
Procurando
Num ciclo infindável não se encontrarem
E permanecerem assim
Escondidas
De si próprias, da coragem e do medo
Da luta e do tempo.