Sublime Esperança

 
SUBLIME ESPERANÇA
 
Que pesadelo, amiga prostituta!
Já não vislumbras luz, nesse capim!?...
Há nobreza ou desdém na tua luta?
Conseguirás levar a cruz ao fim?!...
 
Mediu alguém os transes que levaram
A mais pura donzela à perdição?
Sedentos de prazer, poucos pensaram
Que foi falta de amor; quiçá… de pão!...
 
Já quantos partilharam essa cama?
Perdeste a conta… mil, talvez mais!...
De todos eles, quem viveu teu drama?
A própria escravidão tem ideais!...
 
Num mar revolto, em vão, buscas bom porto:
Abandono e desprezo, o teu manjar!
Não crês venha dos homens um conforto:
Dentes cerrados: -bom é acabar!...
 
Aqueles que te compram e te vendem,
Bem caro irão pagar tal ousadia!
Vão troçando, a fingir que não me entendem;
Mas tarde ou cedo chegará seu dia!...
 
Num quarto, já sem roupa nem pudor,
Finges entusiasmo, e sentes tédio.
Um desabafo engole a tua dor:
Meu Deus! Que hei-de eu fazer?! Não há remédio!...
 
Mulher amorfa; cai no desespero!
Não acredita em si, e odeia o mundo.
Ás vezes grita: -Não! Nunca mais quero
Esta maldita vida, um só segundo!
 
Mas… cai, vencida; não lhe dão a mão;
Sentem até prazer em ultrajá-la!
E eu?! Passo mesmo ao pé; vejo-a no chão!
Contudo não me atrevo a levantá-la!...
 
Tive remorsos: quis voltar atrás…
Não! Muito escárnio irão fazer de mim…
Acobardei-me… não serei capaz
De me assumir, lutar por um bom fim?!...
 
Malditos sois, avaros preconceitos,
Que destroçais a pobre Humanidade!
Se em todos há virtudes e defeitos,
Permanece utopia a caridade!...
 
Homem: tens mulher, filhas, mãe, irmã?
Não crês que também possam chafurdar?!
Que tal o paladar dessa maçã!...
A dor alheia irás valorizar!?...
 
Mulher, não és farrapo; tem coragem!
Embora tarde, vim chorar teu pranto!
Aceita, confiante, esta mensagem:
Somos irmãos; ajuda te garanto!
 
Não me olhes assustada, e com rancor!
Zombar de ti? Jamais! Falo a verdade!
Desconheces o nome deste amor?
Ressuscita, que ele é Fraternidade!
 
Que desejas de mim?! Deixa-me em paz!
Não vais modificar esse fadário!
Descansa. Muito em breve me verás
Cair… entre mil vaias… no calvário!...
 
Não venhas com cantigas! Já estou farta!
Meu débil corpo é pasto de paixões!
Não posso acreditar que alguém reparta
Comigo, amor, carinho ou ilusões!...
 
Acham minha conduta degradante…
Mas os que me procuram, são iguais!
Chamam-me ser imundo e repugnante!?
Porém os que me compram, não são mais!?
 
Uma réstia de esperança me conforta:
Lanço um olhar à gruta de Belém…
Servir de mofa aos homens… que me importa!?
Cristo, ao morrer, transforma o mal em bem…
 
Esta vida corrupta chega ao fim…
Vou partir, sempre em busca da verdade…
Deus sabe o que sofri, vivendo assim…
Justiça, após a morte, é caridade!...
 
06 de Abril de 1983

 Francisco Medeiros Quarta