O altar

O nosso altar ficou pronto
Não tem os afrescos de Masaccio
Nem os de Michelangelo
É simples e promíscuo
Olhe!

Jogada aos teus pés
De joelhos sobre o desejo
Profanando a simbologia litúrgica do ato
Celebro-me tua

Na nave escura
Entrego-me ao amor incomensurável
Copulando com suas delícias
Resigno-me em nós dois

Ansiosos e inquisidores
Sem as vestes morais
Exortaremos os prazeres carnais
Ofertar-nos-emos puros ao pecado original

Despidos dos apegos emocionais
Comungaremos nossos corpos livres
Quebraremos o protocolo inadmissível da posse
Libertos seremos de tudo que aprisiona

O querer primitivo não será amaldiçoado
Nada em nós será condenado
Transpareceremos limpos
Abençoar-nos-emos

Com volutas a nos cobrir
O ápice será cantado por um coro de anjos nus
Entoaremos aleluias em sussurros entrecortados
Adornados seremos por guirlandas flores lindas

E depois de contemplados pelo gozo divino
Confessar-nos-emos devotos um do outro
No sexo imaculado e excitante
Metafóricos renasceremos vibrantes

Engrandecidos
Exaustos e felizes
Feito nuvens nos ergueremos atmosféricos
Subiremos em glória aos céus mais íntimos

Uma preguiça angelical descerá sobre nós
Tudo nos será perdão
Glória aos céus nas alturas
Luz e sombra aos pés da cruz triunfarão

Nina Delfim