Pela morte, o choro.
* * *
Segue o coro de uivos,
segue o corpo e o cortejo.
A defunta de cabelos ruivos,
vai balançada em sacolejo.
De um lado, sete tias
de outro, mais sete,
já pensando benfeitorias
com o espólio de Valdete.
A cova aberta chama.
O caixão tomba na terra.
Nem bem plantaram a grama
foi proclamada a guerra.
Não venceram sete dias
e a missa nem foi rezada,
mas já brigam catorze tias
pela herança da finada.
No caixão revirada,
Valdete fez de ressuscitar
queria ter com a cambada
que enriquecera de pernoitar.
Engasgou com uma flor e morreu,
não precisava enterrar.
Ao purgatório foi de elevador e desceu,
mas ali não quis ficar.
O que fazer, voltar?
O elevador não sobe mais.
Bondade na vida foi pouca,
deu esmola a um rapaz.
Voltou, inspecionou a sepultura,
nem pedra tinha, nem sua figura,
mas é que ainda estava fresquinha
a protocolar semeadura.
Veio a vizinha confortar,
disse para ler os dizeres da coroa
- Saudades de suas catorze tias -
Ô frasinha mais à toa...
Que jeito tinha senão assombrar,
assustá-las com hora e senha.
Tomou o ônibus sem pagar
com destino Lapa-Penha.
Foi no banco dos velhinhos
e o motorista nem a viu
olhou só a mulherada
do decote até o quadril.
Mas se visse... aposte,
entraria com o ônibus no poste!
Mesmo sem ver, distraiu-se, bateu!
Valdete de novo morreu.
Na cama revirada,
Valdete fez de acordar
queria água filtrada,
remédio para febre baixar.