Desde sempre me acompanham quimeras.
Sonhos antigos e novos.
Alguns deles, nem a mim conto.
São meus, a ninguém interessa. Quando menina, escrevia todos eles. E eram repletos de versos, meus cadernos.
Feito estrelas, salpicadas em noites de luar, saltavam em meus olhos, brincavam nos meus pensamentos e esparramavam meus sentimentos nas páginas em branco.
E vinham desejos novos, todos os momentos. Cada um deles, vestidos de retalhos do azul do céu, bordados com fios dourados do sol, valsavam, rodopiavam nas nuvens.
Lá, onde os sonhos todos, são possíveis. E os desejava cada vez mais.
Traçava todos os caminhos que ia percorrer, até os alcançar. Deixaria para trás minhas dores, levaria meus amores. Nenhum me escaparia. Planejava e ria nos braços do futuro. Gargalhava.
Havia muitas rimas e exclamações por baixo daquelas trancinhas enloirecidas pelo verão.
Até as sardas, contadas frente ao espelho, gostavam de ler o que escrevia. Sonhavam elas, mesmos sonhos. Diziam umas às outras, nunca me deixariam só.
As sardas, as tranças, as quimeras, os versos, as rimas todas em ão, o tempo apagou do meu coração.
Em vão busco os esquecidos sonhos adolescentes, deles nem mesmo um borrão.
E foram tantos, foram muitos. Se realizados hoje, fariam do meu céu às vezes sem luar, um verdadeiro tapete de estrelas.
Agora, nas noites frias do outono, nos sonhos sonhados acordada, muitos deles desfilam coloridos nos meus pensamentos.
E os escrevo, rabisco-os nos meus cadernos. Menos os secretos. Esses... vou tatuando no meu pensamento para tentar não esquecer.