O ódio ecoa a vastidão virtual, o prazer em ver o outro sofrer, a difusão das ações belicosas. A materialidade patológica e perseguição ideológica abafam o anseio de muitos que desejam notícia boa. Ocorre a proclamação da violência, banalização dos recursos telecomunicativos, uma onda de egoísmo conectada por um fio tecnológico. O lamentável primitivismo coletivo ganha força, constrói a sociedade dos alienados bestializados, transforma os homens em meros seguidores da guerra ideológica.
Quem são os “donos” do Brasil? O Brasil nunca foi dos brasileiros, originou da Colônia de exploração e ranços de processos que seguem carcomendo as estruturas da sociedade moldada a contextos de lutas pelo poder, para o poder. É triste constatar que as inúmeras mídias têm silenciado a fala dos esquecidos, “invisíveis” marginalizados, estereotipados sobreviventes que não desistem dos seus ideais. Acreditam na humanidade, literatura, educação, arte e cultura, instrumentos de progresso das nações.
Qual é o perfil das mídias? Informar ou bestializar leitores e telespectadores com textos e programas televisivos-cinema alienantes a propagar mensagens que destacam o sofrimento social, fofocas, famosos, digital influencer’s, sensacionalismo, vasto conteúdo chinfrim? Na contramão do sistema, alienante e lucrativo, formadores de opiniões, conectados às possibilidades da ética, tornam possível despertar os indivíduos rumo à utilização do diálogo direto e indireto, a articular movimentos informativos dos direitos que muitos não acessam, devido à ausência de informação. A mazela gera a corrente de agentes conscienciosos habilitados a enfrentar os casos de desproteção social.
Histórica, a problemática perpassa o contexto de bestialização dos indivíduos alienados à realidade imposta pelo sistema polarizado. Incapazes em questionar o tal setor competente, que deveria trabalhar estatísticas no que refere à expectativa de vida, mortalidade infantil, acesso à saúde, educação, saneamento básico, água tratada, direito de ser, de pertença. A realidade de setores tramados, responsáveis pela proteção dos indivíduos coletivizados, é a da gastança excludente de recursos burocráticos, fato que emperra o acesso aos direitos sociais.
A Pátria amada Brasil foi forjada por pessoas famintas, violadas, escravizadas, homens e mulheres que morreram, continuam desaparecendo no campo de concentração abstrato-concreto do poder pelo poder. A fome não assistida mascara conflitos sociais, gera embates mortais em nome da sobrevivência. O colapso visível estampa todo um País de dimensões geográficas gigantescas, fome alardeada, realidades e perversidades diversas.
A fome que dói, num exército de invisíveis, deveria doer em todos, nós armados de egos. O racionamento dos alimentos por conta de preços exorbitantes podem levar qualquer nação à morte. A calamidade escancarada exige o trabalho em parceria, a fome é crônica, o Estado é perverso. Por meio de políticas públicas, deve-se promover a democratização ao acesso à proteção social. Em caráter urgente capacitar, fomentar profissionais de setores responsáveis, despertar olhar humanizado, ético e consciente ante a fragilidade dos fracos, enfraquecidos, desassistidos. A igualdade e a fraternidade são o remédio, junto o coletivo pode sim escrever capítulos de nova história aonde a humanidade tenha o que comer.
Os retratos do Brasil contemporâneo descrevem seu povo a assistir, “bestializado, as movimentações históricas”, afirma José Murilo de Carvalho. As interpretações que destacam o Brasil do alto, de vencedores, esquecem a narrativa dos vencidos. Existe uma Nação que estuda, movimenta e grita, porém, é silenciada, abafada, esmagada por idealizadores elitizados, animalizados do poder abruptamente sucumbido pela ignorância.
O acesso ao conhecimento sempre foi vigiado, censurado, marginalizado. Povo consciente é gente feliz, livre de grilhões, liberta, formada de indivíduos, não de gráficos, números, CPF’s cancelados. Os senhores feudais instalados no topo da pirâmide social objetivam não aliados mas alienados, os que falam olhando sempre de cima para baixo veem mas não enxergam os sujeitos sem face. Até quando a indiferença e ganância que mantém o poder continuarão ceifando vidas dos cidadãos trabalhadores que movimentam a roda operacional do processo de construção da sociedade capitalista? A vida gira em prol do ideal de um Mundo melhor? Ou se está fortalecendo as bases da invisibilidade na promessa das telas de telefones inteligentes?
Que País é esse, aonde a fome é realidade vivida por milhões de brasileiros que nasceram e cresceram na desigualdade estrutural? Que Nação é essa que sempre frequentou a lambança da corrução escancarada, sempre “bem colocada” no Mapa da Fome na condição sociopolítica de Colônia de exploração da miséria em função da riqueza, da minoria rica a perpetuar o roubo dos direitos da maioria pobre instalada na miséria da razão (Coutinho). A pobreza vai além do termo etimológico da palavra, cuja subsistência está correlacionada com os diretos universais de igualdade. Aonde está o povo? Os que produzem alimentos para a minoria sabem da maioria que tem fome de ser?
Quem mantém a pirâmide social, o dono do capital ou as massas por ele explorada? A má divisão dos bens gera a miséria e a fome humana gritante, a matar a conta-gotas da desigualdade social milhões de sujeitos que sequer alcançam o status de ser social, no Brasil, Mundo afora. Corrompida, a sociedade pós-moderna vinculou o direito nato às barganhas políticas de interesses pessoais. A maioria dos indivíduos excepcionalmente não está no foco de possibilidades dos poderosos que governam.