... E eu já sei que carrego o fardo do cego
A percorrer a árdua trajetória, a densa e escura rota
Que reduz tudo ao tédio... Vai apagando a luz, brota
Tal qual erva daninha, rosa em veneno à qual me apego...
Ahriman da escuridão e perversidade, arauto da malícia,
Deitou-se em minhas retinas, ferindo-as, tecendo rugas
A envelhecê-las na proporção de vida das tartarugas
Em poucas décadas e, nisto, riu com sarcasmo e delícia!
Eu já nem sei mais o que esperar no vácuo da miséria.
A angústia de reconhecer que fui reivindicado pelo abandono
Rói todos os meus nervos e martela meu orgulho, tira-me o sono
Enquanto insone, vou acelerando o processo da visão deletéria...
Estou prenhe de cegueira em metáfora, falta literalmente
Este evento acontecer, mas com segurança, não tarda...
Melancólico pelo desprazer da existência oca que me aguarda,
Como devo ocupar o tempo e distrair minha mente?
Recordo-me do antes, quando o zoroástrico deus estava longe
E eu, tolamente, tomei-me por invencível... Isto há onze
Anos, quando não era turva e escurecida como bronze
A vista e eu, talvez fosse mais impetuoso do que um monge...
Sei, entretanto, que tudo isto é uma idiotice do passado:
Estou prestes a conhecer uma ruína unicolor.
Morcego sem asas, envelhecido, solitário, sem resquício de amor...
Em meus olhos (e destino?) Ahriman está acorrentado.