FOGO NO MUSEU
A Alexandre Kellner, Marquês Holstein e Samuel Quiccheberg
“Assim como aquele Meteorito, o Museu Nacional também vai resistir!” – Kellner
“Somos nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, esse montão de espelhos rompidos.” – J.L. Borges
“Fogo! Fire! Queimarão todos os livros” - J.J. Gallahade
Revive-se a tragédia do Museion... Em tons tropicais...
A casa de Elias que recebeu Dom João VI, Dom Pedro I e Pedro II,
Que recebeu as coisas da Casa dos Pássaros que não voam mais!...
Se consumiu em chamas num desastre profundo!
O canto de Sha Amum Em Su é agora um canto trágico,
Cheio de dores para o seu deus Amon
Que de lá das areias antigas do Império Egípcio Mágico
Não pode socorrer a sacerdotisa no seu último tom!
As máscaras africanas de antigos reis tribais
Ao lado do trono do rei do Dahomey, já de há muito vago,
Choram copiosas em lágrimas de cinzas viscerais,
A perda de imenso acervo num imenso estrago!
O espírito da Preguiça Gigante que antes vagava
Imperiosa, altiva nas florestas tropicais
Agora se perde à busca da paisagem que amava
Na resistente vontade de reviver o que não volta jamais!
Duzentos anos de História do Brasil desaparecem
Na pira funerária do descaso e da ignorância
Nas chamas que sobem aos céus ali também perecem
Os sonhos de um país mais justo, mais rico e com abundância...
O passado quando resguardado, preservado, relembrado
Não é apenas o passado inerte, imóvel, morto
É parte do presente vivo, é parte do futuro sonhado
Incrustado como pérola perfeita do tempo absorto!
Mas ali, cercado de chamas fumegantes e colossais
Eis que de há muito vindo do espaço sideral
E ainda com impressões digitais de Spix e Martius e outros mais
Resiste às chamas relembrando a entrada na atmosfera nacional...
Torna-se o símbolo da esperança machucada, utopizada,
Solitário agora, entre farrapos queimados, brasas, cinzas e pó
Para que ressurja a importância da Pátria Relembrada,
Mas que se converta em grito virulento e dolorido do Bendegó!